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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ECONOMIA + PSICOLOGIA


Há quem entenda que a economia comportamental foi concebida por Gary Becker nos anos 70. De fato, foi ele quem incorporou definitivamente uma série de lampejos da psicologia à pesquisa econômica. “Mas sempre houve um casamento entre economia e psicologia”, afirma Roberta Muramatsu, professora de economia do Mackenzie e do Insper e estudiosa da neuroeconomia.
A separação entre as duas disciplinas se deu quando os economistas mais matemáticos roubaram a cena dos pensadores, digamos, humanistas. Foi uma decisão provocada pela falta de ferramentas para medir felicidade, satisfação e prazer. Cobrava-se jocosamente dos antecessores de Thaller e Kahneman a construção de um “hedonímetro” capaz de mensurar essas sensações. Sem isso, alegavam seus críticos, não seria possível dar respeitabilidade à economia como ciência. Ali, na virada do século 19 para o 20, entravam em cena os economistas chamados até hoje de neoclássicos.
Em economia, a ideia de que os seres humanos são entes racionais que sempre perseguem seu autointeresse pode ser traçada até os escritos pioneiros de Adam Smith, no século 18. Tornou-se célebre a frase do economista e filósofo, em seu livro A Riqueza das Nações: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos pelo nosso jantar, mas da consideração deles pelo interesse próprio”. A lenta evolução dessa ideia desaguaria na hipótese das expectativas racionais, formulada nos anos 70 por dois economistas da Universidade de Chicago, Robert Lucas e Thomas Sargent. Preconiza que a economia deve ser vista como um sistema mecânico, regido por leis definidas, imutáveis e universalmente entendidas. Na média, as expectativas de todos os agentes do mercado estariam sempre corretas, já que, supostamente, levam em conta toda a informação disponível.
Essa visão permitiu tornar a economia uma disciplina mais científica e gerou modelos matemáticos sofisticados para fazer previsões (em teoria precisas) sobre os preços futuros de ativos como ações, moedas, commodities e imóveis. Levada a extremos nas décadas seguintes, instalou-se nas finanças e deu origem à teoria dos mercados eficientes. Ela pressupõe um modelo bem definido de comportamento econômico seguido por todos os participantes do mercado. Mercado esse que, povoado por pessoas racionais e competitivas, seria sempre o instrumento mais eficiente para estabelecer o melhor valor dos ativos.
O economista Roman Frydman conta que, quando trocou a Polônia pelos Estados Unidos, no final dos anos 60, ficou surpreso ao conhecer as teses econômicas que estavam se consolidando nas universidades do país. “Os americanos achavam que era possível criar modelos matemáticos para explicar de maneira precisa o funcionamento dos mercados”, afirma. Curiosamente, segundo Frydman, essa visão mecanicista e a fé na capacidade de prever matematicamente o comportamento da economia tinham grande semelhança com as hipóteses predominantes nas economias socialistas. A diferença é que o mercado fora colocado no lugar do planejamento central. “Por causa da minha experiência na Polônia, eu sabia que não era possível prever como todos os agentes do mercado tomariam suas decisões, e que criar um modelo tão preciso era impossível. Em 1982, escrevi meu primeiro trabalho sobre o assunto e, desde então, me oponho a essa ideia, mas minha contestação foi amplamente ignorada.”
Vingado pela história, Roman Frydman é um dos raros economistas que, além de críticas, oferece uma teoria alternativa às teses econômicas dominantes. Ela foi batizada de Economia do Conhecimento Imperfeito e transformada num livro de mesmo nome, lançado em 2007. Sua visão contraria o que foi senso comum por 30 anos: os mercados são inerentemente imperfeitos, e as expectativas mudam constantemente, sendo impossível criar um modelo confiável para prever comportamentos e preços futuros. Atenção: Frydman diz que os mercados não são irracionais. O ponto é que as grandes flutuações são parte integrante de como eles funcionam, sendo impossível eliminá-las ou prevê-las com precisão. O máximo que se pode fazer, usando a Economia do Conhecimento Imperfeito, é identificar quando um preço está se comportando fora do padrão histórico e usar essa informação para buscar indicações do que deve acontecer.
Fonte: Época Negócios- Out./2009.
Postado por Caroline Beatriz.

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