Robert Shiller foi um dos poucos economistas a alertar sobre os perigos do subprime nos Estados Unidos. Também foi um dos poucos a criticar colegas de profissão por rezarem pela cartilha da teoria econômica que desembocou na pior crise econômica mundial dos últimos 70 anos. Talvez muitos não tenham ouvido o autor de Exuberância Irracional justamente por ele ser um crítico do pensamento econômico dominante há pelo menos duas décadas. Seu mais recente livro- O Espírito Animal, lançado em outubro no Brasil- parece ter sido escrito para discutir o assunto. No entanto, a obra, que trata da irracionalidade econômica, começou a ser produzida há cinco anos. Nesta entrevista, Shiller discorre sobre o que saiu errado, o que precisa mudar e de seu temor de que as transformações não ocorram.
Mudanças sem fôlego- Provavelmente é correto dizer que os sinais de recuperação da economia estão diminuindo o ímpeto de mudanças. Já estamos voltando a ficar mais complacentes e a dizer que as coisas na economia não eram tão ruins como pensávamos. É um risco. Um dos fatores que continuam a promover as mudanças é a raiva que as pessoas sentem em relação ao que ocorreu, com empresas ricas sendo ajudadas pelo governo. Mas, se veremos grandes mudanças na economia no futuro, vai depender de liderança.
Quanto pior, melhor?- Já ouvi a ideia de que uma crise mais profunda seria melhor, porque conduziria a transformações econômicas necessárias. Não sei, mas nunca iria desejar uma depressão. Não é possível estabelecer uma ligação direta, porém podemos dizer que a Grande Depressão de 1930 foi um fator que contribuiu para a Segunda Guerra Mundial. Foi a raiva gerada pela depressão que levou a outros tipos de conflitos.
Revoluções econômicas- Ainda espero que esta crise vá criar uma revolução no pensamento econômico. Nas últimas décadas, tivemos uma influência exagerada da teoria dos mercados eficientes, da teoria que diz que os mercados são mais espertos que qualquer um. Agora essa visão não parece tão verdadeira e temos de repensar tudo. Depois da Crise de 29, tivemos uma revolução na teoria econômica Keynesiana. De certa forma, perdemos essa revolução e, à medida que os anos passaram, muitos economistas voltaram às formulas antigas. Economia não é como a física, não avança sempre, e a hipótese dos mercados eficientes foi um dos grandes erros na história do pensamento econômico.
Mundo complexo- O comportamento humano é muito complicado e não está bem representado pelos modelos econômicos. É preciso reformular a teoria econômica porque ela não acomoda a realidade muito bem. Essa é uma razão pela qual não vimos a crise chegar.
Nova economia- Campos de estudo como a economia comportamental ou a neuroeconomia estão aqui para ficar. Mas não sei em que velocidade essas novas áreas vão evoluir. Acredito também que várias partes da psicologia, como a cognitiva e a social, vão se tornar especialmente importantes. Até a sociologia poderá ter um renascimento. Em alguma medida, os teóricos econômicos recentes fizeram o mesmo que os antigos físicos gregos, que apenas sentavam e não faziam nenhum experimento. Eles deduziam boa parte da física a partir de suas mentes. Os físicos aprenderam que têm de fazer experimentos. Eu espero que isso esteja gradualmente acontecendo com a economia.
Matemática- Nem tudo o que foi desenvolvido pela teoria econômica recente está errado. Acho que temos melhores ferramentas para lidar com riscos. A economia matemática e a matemática financeira são disciplinas úteis, que se desenvolveram muito. Embora algumas ideias na base dos modelos estejam erradas, vários deles são úteis. O que não se pode fazer é levá-los longe demais. Precisamos entender que mesmo os modelos úteis são imperfeitos e não explicam o que acontece em todos os campos da economia ou do comportamento.
Fonte: Época Negócios- Out./2009.
Postado por Caroline Beatriz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário